Ser mãe de um bebê prematuro não é nada fácil.

E olha que o meu bebê mais prematuro não nasceu tão prematuro como nascem os prematuros hoje em dia.

Conheci a prematuridade aos poucos, uma semana por vez: 35, 34 e 33 semanas.

Naquela época, (28 anos atrás) pouco se falava em plasticidade cerebral, desenvolvimento cognitivo e coisas afins. A maior preocupação era manter o bebê respirando, com o resto lidaríamos depois.

Manter o bebê respirando implica UTI neonatal e UTI, qualquer que seja ela, implica infecções. Mas, ninguém nos conta que algumas infecções são o resultado do desequilíbrio que o excesso de antibióticos pode causar no corpo de um bebê tão pequeno. E, por acreditarmos na medicina como ciência exata, alguém precisa ser julgado culpado quando as coisas saem fora de controle.

É nesse instante que uma guerra se apresenta, quando a mãe, por conta da falta de informações, do desamparo, da solidão e da culpa, se volta contra a equipe médica.

Muitos bebês sobreviverão, outros não. Muitos serão saudáveis enquanto outros terão sequelas causadas pelo tempo de incubadora.

Mas, a mãe que passa pela UTI neonatal sempre sobrevive.

De uma maneira ou de outra, ela sobrevive. Sempre sofrida, terá cicatrizes para o resto da vida. E, algumas vezes, sobreviverá sem um pedaço do seu coração caso o bebê venha a óbito.

Parece que ninguém parece se dar conta de que é a falta de informação que gera a terrível sensação de desamparo.

Embora possa ser uma benção, quando as coisas desandam a ignorância torna-se emocionalmente devastadora.

Sentimentos e pensamentos sombrios em relação à tudo o que se está vivendo levam à solidão.

É o chão que falta, a tristeza que invade, o silêncio que machuca. Não ousamos dizer o que se passa por nossas cabeças para que não nos julguem insanas.

É melhor calar e sofrer sozinha.

Afinal, precisamos ser fortes.

Uma força que vem de um útero vazio.

Como conseguimos ser uma fortaleza quando deveríamos expor toda a nossa fragilidade?

É… É como diz Rita Lee: mulher é um bicho esquisito!

Texto: Monica Xavier