Cansamos de ouvir dizer que depressão é coisa séria.
Ao mesmo tempo, também estamos cansados de ouvir que a depressão não passa de um tristeza profunda, aquela melancolia que criou os grandes poetas.
Depressão chega a ser tão subestimada que tem gente por aí dizendo que ela nada mais é do que “preguiça existencial”.
Convivendo com essa doença há mais de 10 anos, digo com certeza de que depressão é muito, muito mais do que o que dizem por aí.
Depressão é um tsunami que vem para destruir.
Ela rouba sonhos, leva embora a esperança, quebra laços afetivos.
Depressão adoece e aprisiona.
Depressão, quando não coloca a vida na estante, tira a vida.
E deixa bem claro que o controle não é você quem tem.
Chega a hora em que a depressão é tão incapacitante que a única saída parece ser a morte.
No fundo, no fundo, depressão é como o câncer.
Quando corroído pelo câncer, desistir é um ato heroico.
Mas, quando a depressão corrói, desistir é covardia. Em vez de herói, o suicida é egoísta.
Alguém disse uma vez que “suicidar-se é sair da vida batendo a porta”.
Na verdade, pensar em desistir é sinal de exaustão. Chega uma hora em que o corpo não mais aguenta e a cabeça literalmente pira!
E, quem já não aguenta mais sofrer torna-se o vilão da história.
Olhamos para ele com frustração enquanto perguntamos que direito ele tem de fazer isso com a gente. Olhamos com indignação. No lugar de um olhar misericordioso, o olhamos com raiva, muita raiva, e sentimos em nós mesmos uma vontade enorme de desistir.
A família inteira sofre. A família estendida também sofre.
Olhamos no espelho e, além do sentimento de impotência, nos sentimos um fracasso.
Onde será que erramos?
Por que acertar é tão difícil?
Por que psiquiatras se sentem semideuses e tratam a nós, mães, com tanta indiferença?
Por que os médicos do pronto socorro, quando lá chegamos desesperados e desorientados, nos olham com pena como quem diz que fracassamos?
Por que os amigos se afastam?
Talvez nós é que nos afastemos pelo cansaço, pela culpa, pela vergonha.
Depressão é como droga.
Tornamo-nos co-dependentes do deprimido.
A vida perde a cor…
O casal só pensa em como aliviar a dor um do outro sem, no fundo, saber o que fazer.
Os outros irmãos são esquecidos.
Acordar a cada manhã vai ficando cada vez mais difícil, olhar para o filho deprimido e perceber seu olhar vazio e distante é incapacitante!
Mas, a vida continua.
Temos outros filhos.
Temos outras ocupações.
Também temos nossos sonhos, descobrimos outros sonhos.
E, como Rubem Alves, pensamos na ostra.
“Ostra feliz não faz pérola”.
Haja pérola!!
Texto: Monica Xavier
Imagem: Photo by Kat Smith from Pexels