Há muita coisa em jogo quando um casal resolve ter um bebê.

Antigamente, gravidezes simplesmente aconteciam.

Hoje, planeja-se quando e como esse bebê virá ao mundo.

O tão assustador relógio biológico não para de tiquetaquear enquanto espera-se que uma série de muitas outras coisas aconteçam antes que uma criança seja concebida.

Enquanto no passado, famílias eram constituídas em conjunto: pais e filhos estavam igualmente envolvidos nos projetos de crescimento individual uns dos outros, de uns tempos para cá o casal quer desfrutar de certa estabilidade emocional, financeira e econômica antes que os filhos cheguem. Cursos de pós graduação, apartamentos confortáveis, viagens internacionais, carreiras e finanças são prioridade e o bebê só pode chegar depois que tudo estiver devidamente em seu lugar, em ordem e sob controle.

Inclusive o casamento.

Mas, a vida interrompe e as coisas podem não sair como planejadas.

Fruto ou não de processos de gravidez assistida, o bebê já chega tumultuando e mostrando que ninguém controla nada e muito menos uns aos outros.

As mudanças hormonais da mulher gestante começam a acontecer enquanto a dinâmica do relacionamento do casal vai aos poucos se alterando.

Duas coisas podem acontecer entre os futuros pais: o companheirismo e a cumplicidade crescem exponencialmente; ou um afastamento silencioso e sutil começa a se instalar entre o casal.

E o bebê está ali, crescendo e se preparando para ocupar o seu lugar.

Entre as consultas pré-natais, a escolha da maternidade, a decoração do quarto do bebê e a compra do enxoval – tudo extremamente bem calculado – o bebê parece decidir que está com pressa de chegar e o caos se instala num ambiente antes extremamente controlado.

Do repouso absoluto da futura mãe ao parto prematuro, tudo pode acontecer.

E, descobrir que não tem controle sobre nada, muito menos sobre o próprio corpo, é a maior situação de impotência e frustração que uma mulher, agora mãe, pode experimentar.

Embora possa até parecer uma bobagem, nem poder ir àquela loja X para comprar aquele macacãozinho com o qual ela imaginou vestir o bebê no primeiro dia no berçário dói como um soco no estômago. Mas, ela não vai dizer isso para ninguém, podem julgá-la fútil, superficial e infantil.

Todo e qualquer pensamento ou sentimento que passa pela cabeça dessa mãe estão sujeitos a uma censura pessoal prévia massacrante. O tal do politicamente correto pauta aquilo que pode ou não ser sentido e pensado, causando uma culpa descomunal em relação ao seu corpo e à sua maternidade.

E é em meio a pensamentos impensáveis, sentimentos impróprios e a insegurança em relação ao futuro que, além de um bebê prematuro, nasce também a mãe de UTI.

Texto: Monica Xavier
Imagem: Pixabay