Natal é a época do ano que todos parecem ficar bonzinhos e uma bruma sentimentalóide paira no ar.
Sou uma dessas pessoas que, desde criança, se deixa envolver por essa neblina de sensações e parece que conforme vou envelhecendo essa bruma fica mais espessa e começa a baixar cada vez mais cedo.

Isso não quer dizer que não goste de Natal. Ao contrário. Gosto da razão do Natal, da casa arrumada, das luzes, da figura do pinheiro e seu ensinamento de resiliência, das festas e da família reunida. Gosto das memórias da minha infância, das memórias da infância dos meus filhos.

Lembro dos natais na casa da Vó Maria, alguns anos chegamos a ser 10 primos pequenos reunidos, além de nossos pais, tios e agregados. Era realmente uma festa!

O tempo passou, crescemos, nos distanciamos geograficamente, nos afastamos, já não nos vemos tanto, para não dizer quase nada. A vida atropela, não nos damos conta e chega o dia que não sabemos nem como começar uma conversa pois não nos reconhecemos mais família.

Há os que se foram para sempre e que deixaram a saudade de suas vidas bem vividas e a ilusão de que se ainda estivessem aqui evitariam que sofrêssemos.

E há aqueles em quem um dia confiamos e que nos magoaram e parecem não estar nem aí para o dano que causaram e ainda causam. Aqueles que acham que são os donos da razão, os intocáveis que nos desdém e, a parte difícil da equação, gente que um dia amamos e admiramos.

Então vem a questão do perdão.

Questão essa que me ronda já há um tempinho quando, extremamente magoada e sofrida alguém aconselhou-me que o pedido de perdão partisse de mim.

Oi? Como assim? Eu “saí do play”, como se diz por aí, para evitar uma encrenca descomunal deixando tudo pra traz e sou eu que vou pedir perdão? Essa pessoa só pode ter bebido todas. Voltei pra casa, pensei, meditei sobre essa questão, me enchi de coragem e pedi perdão por ter saído andando.

Ah…dizem por aí que gente que é forte pede perdão. Será?
Esse fim de semana ouvi sobre perdoar.

Não, não ouvi que perdoar é esquecer porque isso é coisa de psicopata. Não precisamos e não podemos esquecer nosso passado porque ele é parte de quem somos, inclusive porque a lembrança do passado serve para não cometermos os mesmos erros outra vez.

Ouvi que perdoar liberta quem perdoa e que perdoar não é nada fácil; que perdoar é um favor que faço a mim mesma ao permitir que minha vida siga desvencilhada de quem me feriu.

Perdoar é como colocar um barquinho em um rio de águas tranquilas e deixá-lo seguir seu rumo: lá vai ele, vagarosamente, em direção ao horizonte até que um dia eu não o veja mais. Levará tempo, mas o barquinho vai, a vida cicatrizará e um dia deixará de doer.

Que possamos, nesse Natal, nos reconciliar com a vida e colocar muitos, muitos barquinhos para navegar, libertando-nos das amarras que nos prendem num passado ao qual não mais pertencemos.
Feliz ano novo!

Texto: Monica Xavier
Imagem: Pixabay